O ornealho


O vizinho António contente pedia-me que tocasse o ornealho.
Toca o ornealho!! Venha ho', toca aí algo, caralho!!
Aqueles dias grandes de verao e tanta seca, chegava mui canso, caminhar todo o dia detrás das cabras, buscando verde.
A força das palmas do António e o seu bater na pandeireta animavam-me.
Colhia a Gaita e venha ...
O meu irmao a cantar!
O filho de Josefa, o Benito que estava na Suíça e vinhera ver à mai, aparecia.
Armavamos uma repichoca, fechavamos o dia longo.
A aldea de Requeixo, calada já tantos anos, voltava a orgulhar-se entre as do lado da Lagarteira, a fazer-se sentir contra a B'roa.
Entom, era ela que aturujava a través de nós.
E os berros ancestrais saiam espontâneos, ocupando o oco exacto que o tempo tinha deixado para eles.

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