Cativo

- Andam nas cereijas!
- Mecagho nos cativos!!

Quando livres, eram-che moito.
Agrupavam-se em bandos e percorriam a contorna, roubando, pilhando, argalhando contra a adultice, e contra a velhice... nem che conto os males que causavam.
Iam teixar nos chícharos, rilhavam os conchos verdes.
Metiam-se a fazer camas no centeio ou no trigo, deitando-o.
Subiam às maceiras. A sua fame de liberdade e doutras cousas permitia-lhes comer a froita verde agre.
No milho apanhavam as cabuchas, as espigas leitosas e se nom as comiam cruas, sempre havia algum arteiro que fazia um lume e assava.
Pilhavam troitas a mão, fazendo-lhes carinhos na bariga.
Doutras vezes acabavam na ribeira, nom deixavam caranguejo, mincha ou mexilom, arrasavam com tudo, comiam os camarons vivos.
A sua estratégia era a de terra queimada.
O seu conhecimento do meio, permitia-lhes um aproveitamento total, além de terem umha hierarquia marcada e até certo ponto estável, onde o mais febre tinha o seu lugar, como vigia, ajudante ....
Sabiam dos lugares ocultos onde o merlo aninhava.
Castinheiros e carvalhos ocos, canhotas onde se meterem se chovia.
Juntavam-se em penedos de poder, centros de energia e carga telúrica que os fortalecia.
Atreviam-se a subir pinheiros altíssimos para roubar-lhe os ovos ao corvo. Os companheiros abaixo barulhando para espantarem as aves irritadas. E o aghatunhador com um pano prendido polas quatro esquinas na boca onde levava o delicado tesouro, descida heróico, depois de sentir a vertige do coruto enramado abalando.
Conheciam onde se davam os careixons, os morotes, os morangos silvestres mais ricos, enfiavam-nos numha palha.
Subiam ao alto da serra, sentiam como os arandos lhes davam a essência do urso.
As amoras!
E as castanhas!

Chegou um dia no que a gente se fartou.
Entom prendérom-nos.
Fixérom-nos cativos.
Eles ainda assi defendiam-se desta condiçom.
- Cativo! Passa prà casa.
- Cativo é o demo! - Retrucavam, guardando dentro a pérola da liberdade, o orgulho céltico de esperança, sempre se podia fugir, umha escapadinha para o monte ...
Ao nacerem, já os metiam em caixons, berços, cadaleitos, onde nom se podiam mexer.
Enfaixavam-nos bem apertados, e marchavam para os labores.
Nalguns lugares cavavam buracos na terra e ali os deixavam enterrados, apenas a cabecinha de fora.
Havia mochilas-cárcere bem cinchadas, para carregá-los ao lombo.
Estes cativos presos nom tinham maneira de se defender, e se o porco volvia antes para a casa e entrava na lareira, o ulido a leite azedo, chamava-o, podia ir ali, e comer-lhe as orelhas ou as suas partes, um dedinho. Algumha rata tem rilhado orelhas e narizes.

Nom che cambiou muito o conto, dantes a agora.
Segue havendo cativos.
Um cárcere tam pavloviano, que depois quando podendo ser livres, buscamos voltar a ele.
Cativos de por vida.

E assi feiamente, cativo é sinônimo de criança, de neno.


Teixar: atuar rápidamente, comer ávidamente, fazer o que fai o porco-teixo, o teixugo, comer nos chícharos, nas ervilhas, nos pericos verdes, a casca da bainha, do concho doce e saboroso, só hai que pelar a parte coriácea interior.

Nenhum comentário: