Aqui todo chega.
Ainda que eu por vezes nom creio nessa sentença.
Todo vem de fora, dizem outros
Algo vem de dentro, penso eu.
Havia um velho pastor, o tio Abur.
Dizem que era conhecido por Abur porque nunca dizia adiós.
-Para onde vai tio Abur?
-Vou levar a fazendinha cara o monte da Meda.
-Tam longe?
-Desde ali tenho boas vistas, vejo as gaivotas cruzar a ria, e os buxatos.
-Adiós, tio Abur.
-Abur!
Aqui na Galiza, dize-se adiós por questions que som para outro conto.
O velho Abur despedia-se sempre com esta palavra. ("Porque nom crê em Dios", falavam uns para outros polo baixo), nom cria no Deus da Iglesia Católica.
Nunca ia à missa.
O velho Abur vestia sempre ao jeito antigo, levava polainas de lã, quando já ninguém as usava, nom eram polainas de lã tecida, eram de coiro coa lã cara fora.
Um feito histórico foi quando abrírom a pista, a estradinha. Ele apresentou-se co seu exército de cabras, ovelhas e cans, coa sua amiga a meiga, e outros opositores à apertura da parróquia ao mundo; bisarma em mão parou o trabalho dos empedradores legoeiros. Tivérom que vir os guardas municipais da vila, e houvo paus, a meiga caiu polo cham levantando-se-lhe as saias, e vendo-se-lhe a parrocha pelada, como era norma entre as da sua ocupaçom, e algum acabou no cagarrom (calabouço), e assi foi...
Morreu o velho Abur. Era só. Nom tinha família.
No enterro de corpo-presente, ainda nom sendo cristiam, metérom-no na igreja, o cura alçava a hóstia, um grande estronício soou na sacristia. E sentiu-se:
Huhu huhu! Morreu o velho Abur!
O tio Abur, nom era outro que o tio Augur?
Este conto vem da minha família.
Onde as aves de bom agoiro?
A ornitomância.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário