Abur

Abur é voz de despedida.
É um adeus.

Um resto.
Dizem que é voz basca, de agur.
Tamém dizem que pode vir dos latins aguriu, auguriu, agoiro, augúrio.

E virá. Seguramente dum lado ou do outro.
Um resto de algo que aqui ficou.
Aqui nesta esquina atlântica parece ser que todo chega.
Todo aporta, como num recanto dum areal, entre argaços, paus, folhas, resíduos, refugalhos ...

Os restos, as ruínas, os augúrios e a coruja:
A coruja, ave de augúrio, uns dizem, a cultura poular galega, que de mau agoiro, mas eu penso doutra maneira. A coruja, dizia, conta o seguinte, coa sua voz esganada, sobre as ruínas e os restos:

"Escolhi por morada uma casa abandonada. Sou pouca cousa, nasci entre ruínas e nelas estou à vontade, mas não para drogar-me. E fui dar a centos de lugares habitados, uns estão em confusão, outros no ódio. Eis que aquele que quisesse viver na paz deve refugiar-se como o drogado, entre as ruínas. Se nelas moro tristemente é porque é ali onde estão agachados os tesouros. E este amor pelos tesouros é o que me leva às ruínas, pois os tesouros somente existem nelas. Ali oculto a toda a gente as minhas inquedanças, o meu desassossego, com a esperança de atopar um tesouro que não esteja resguardado por nenhum encantamento.
Se o meu pé o achar...
O meu ansioso coração ia ficar livre?...
Esse amor ao ouro, disse-me a poupa, que não me deve cegar. Não farei deste amor terreno uma idolatria.
Pois o ouro verdadeiro é bem outro que me iluminará quando dê saído da noite".

Deixemos a coruja, santa animália pejorada nestes séculos.
Aih Atena!, quê mal tens feito para assi te condenarem?


(O falar da curuja é refeito de "O colóquio das aves" de Farid Uddim Attar).

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