Espir

Espir , despir.
Aqui vou com outra história.
Vai sobre a argumentaçom na que muitos galegos se escudam, ou excusam:
"Assi dezia a minha abuela".

A minha avoa, aprendeu a modista num talher por alô por Limodre.
Nos seus primeirinhos dias naquela sala cheia de feminidade, pedírom-lhe que provasse uns vestidos que queriam entregar. Ela nova e bem feita: umha modelo.
- Onde me ispo? - perguntou.
A sala da costura saltou em gargalhadas, risos, e burlas para a polinha adolescente.
- Ai nena, nom sejas da montanha, aqui nom se di espir, di-se desnudar-se.

Cinqüenta, sesenta, anos depois contou-me isto, quando falando eu algo de espir, ela abriu muito os olhos e a boca.
Cinqüenta anos nos que nunca voltara a dizer "espir".

Algo semelhante aconteceu coa palavra avô, quando numha forte discussom co meu abuelo, como me ensináram a chamar-lhe, saiu-me o berro:
- Avô! Nom é assi como ti pensas!
Ela, a minha abuela, tamém abriu outra vez moito os olhinhos e a boca.
Quedou dizendo polo baixo "avô, avô, avô ..."
E contou daquel velhinho marinheiro e lavrador, que no page da comida, apartava as patacas mais deliciosas para a nena, para ela, o seu avoínho.

Patrúcio

Bem se conhece o que eram os patrícios romanos.
O rural estruturava-se em redes de casas familiares extensas.
O representante, velho ancião, do grupo, levava o nome de patrúcio ou a variante petrúcio ou patroa e patrom.
Patrom tamém é sinônimo de velho, cum matiz de respeito:
Ei Patrom! / Ei "senhor de idade"! ...

Na literatura galega empregou-se muito a sequência: Um velho petrúcio ...

E agora o espanholismo: "Maior".
Hai pouco que começou esta palavra a soar nos meios de comunicaçom em galego.
Os velhos em cada concelho começárom a ter a "Festa dos maiores", comidas e bailes gratuítos para reformados, retirados; agora institucionalizada.
Foi tamém que começou a haver "centros dos maiores" ou "fogares dos maiores".
Vaia, tamém o Quintana segue bailando cos maiores.
Maiores, maiores, maiores...

Para fugir da palavra velho, ancião, idoso, colhérom/colhémos/colheu-se o espanhol mayor , que en castellano significa persona que tiene mucha edad, o de más edad.
Un eufemismo, de viejo.

Eis aqui outra traduçom a machado!

Mas como já tenho idade, ainda bem que nom som maior, lembro:
Qual dos dous irmaos é o mais velho?
Mas agora, o frequëntíssimo:
Qual dos dous irmáns é o maior?

Conclusiom:
Aih meu velho!, nos la dejamos meter doblada.

Às vezes acontece que

me entra o pensamento de: quê estou fazendo com isto de apanhar aqui e alô palavras perdidas?
Palavras que são faladas por gentes que não temos o poder, isto vem sendo palavras sem poder.
Palavras que esmorecem, que já não se usam, pois o seu objecto despareceu, está desaparecendo.
Palavras que caem esmagadas pela força da globalização, da espanholização.

Sinto-me como quem vai recolhendo e guardando roupa velha que já não vestirá.

- Para que?
- Para encher arcas de solidão.
- Oh!, deixem-me de morrinhas!

Arrenego da soledade, esse sentimento que mais ao sul requintaram em saudade.
Tão escassos andávamos, andamos, que da dor e do dó construímos.
Maravilha!


Ainda assim finalmente sai o que sai:
Mais um outro blogue de soedades.
- Bô, e logo que vai dar um galego quado se exprime?

O cantar do ghaleghinho
é-ch'um cantar bem tristeiro,
começa c'o ai-la-LÁ-lô
remata c'o ai-la-LÊ-e-lô.

Arredemo!, que não quero suidades!
Se quadra, para me libertar delas tenho-as que botar fora, aqui:
Um trouso de morrinhada.
Desculpem se ao ler no blogue, marcham salferidos da soidade deste pequeno campo-santo.

Bem, o bom é para mim esta busca, e o que as palavras guardam debaixo, por vezes umas estorinhas esclarecedoras e doutras verdadeiras histórias que a mim me servem.
Ver por debaixo das palavras
Como quem vai apanhando folhas velhas, anacos dum grande livro, e pode ir compondo a trama, ir vendo a intenção do autor.
A isto tudo ajuda que possamos entrar noutros espaços, já não digo irmãos, pois são lugares que nos pertencem, partes ocultas nossas, ocultadas. Capítulos e capítulos que nem sabíamos deles e estavam aí, do outro lado do que lhe dam em chamar Raia, ou nos nossos recunchos, nas nossas gavetas fechadas.
Não, não um sincretismo.
O mesminho conto!
Aprofundar para ver como as palavras nos conformam, para bem e para mal.

Talvez compartir aqui, por se alguem ...

E mas o certo é que nalgum lugar tinha que deixar isto tudo, e aqui no blogue dá-me mui bom jeito.

Cajom

Fum trabalhar a umha casa que lhes chamavam os do Cajom.
Essa palavra, pensava para mim, como será?, seriam os do Queijom, ou os do Caixom, viriam das Astúrias, tragheriam o nome?, será umha variante de cajó (algo de pouco estima), mesmo de cajom, pedra miúda?

Entom numha biblioteca, um livro com palavras medievais dixo-me que cajom é desastre, desgraça, dano, mal, ou ocasiom.
E que tem muitas variantes: Acajom, acaijom, aqueijom, oqueijom, casiom, cajam, cajiam.
E resolve a orige do apelido Cagiao?
Pode ser que algumhas palavras fossilizem e permaneçam desde o tempo medieval até hoje em recunchos, neste país recôndito?

Entendim mais e melhor a expresiom espanhola "cajón-de-sastre".

Lembrei aquele primeiro livro que lim do Suso de Toro "Caixón de xastre".
E vim mais umha vez como os galegos somos dos melhores tradutores literais, pois só é por galegos escrito ou dito "caixom de xastre".
Nem as possíveis variações (caixão/cajão , desastre/de xastre/de alfaiate) dou com elas noutros lugares da nossa língua.
Tamém lembrei o barco aquele o Casón, carregado de tóxicos, batido contra os cantis do Finisterre.
Um caso cajom o do Casón.

E mais pensei na minha Madrinha, chamando-lhe às gavetas polo seu nome: gavetas e nunca caixons.
Pois diz que até hai bem pouco um caixom nom era mais que umha caixa grande.
Que se lhe vai fazer?

Praia

Na pele saem umhas manchas, encarnadas, algo inflamadas do tamanho dumha moeda, as pralhas, praias, plaias, plalhas
Os porcos padecem disto.
As persoas tamém.
Chegam os cientistas curadores ver os ranchos e dizem-nos que tenhem o "mal rojo".
Cousas que passam ao aprendermos a ciência em espanhol.
Alguns chamam-lhe erisipela (do grego pele vermelha), o termo derivou em dicipela ou disipela.
Noutros lugares chamam-lhe o mal rubro.

E de onde virá o nome?
Terá que ver cos latins placula ou plagula?
Co parente francês plaie?
As lesons da pele som plaquinhas com rubor, as pralhas, que tamém sentim plalhas.

Eslacumada


Está toda eslacumada, caiu da bicicleta.
Rabunhou os braços, feriu as pernas, os côvados, que nem sei como fijo.

Eslacumada, nom está nos dicionários.

Dou-lhe ao pensamento:
Eslacumar.
Esmacular. (hipotética forma?)
Es+macular.
Macular.
Magoar.
E ela toda eslacumada ... Poria-lhe nas f'ridas o primeiro cuspe da manhá, antes de almorçar, esse que é o melhor para sandar, tam bom, tanto, como as lambidas do cam de Sam Roque. Mas nom pudo ser...

Eslacumado, feito um cristo, entre tojos e silvas, a peleja diária da vida, abrindo a fouce caminhos fechados, espinhado, a bater nas pedras caídas, correndo.
O cristo dos dias!



Como deixárom ao Ecce Homo, o "Ci-home" !!



Eslacumadinho de todo.


Eslacumar, eslacumada, eslacumado, nom está nos dicionários, é semelhante a alacarado, quando andas polo monte e chegas ferido de espinhas, chegas eslacumado, alacarado.
A partícula é lac-
Laco é o puxom forte que se lhe dá à cana para que quando sentes que o peixe pica, que o anzol se crave.
Lacus, poderia ser a ferida aberta na terra, um rego.

Eleuta

Anda bem eleuta, ainda comichou algumha frangulha do penso e depenicou na erva seca.
Ao erguer-se, espile-se como se nada, despreguiça-se toda.

Eleuta, espilida, sã, esperta, aguda, viva ...

Virá dum hipotético electum, do verbo latino elegere?
Tanto eleuta, como espilida, dam essa image de separada, escolhida de entre o grupo, fora do comum.

Entom o idioma presupom que a maioria adormecemos.

E prórprio de sentir a vida, de vivê-la plenamente, ser electum, expertum, ou eleuto/eleito, experto/esperto?
Mais ainda, é ser espilido!, expelido, expulso, expulsado?

O nahuatl e o tonal.

Eleuta, aleuta.

Meiga



As palavras ocultam ou desvelam.
Se na Galiza as bruxas conservárom o nome de meigas, não foi por casualidade.
Meigo aqui também é usado carinhosamente, mesmo para um bebé.

Essas mulheres-medicina, xamãs, mulheres de poder, cuidárom da gentinha com ervas, palavras e amor, quando pouco mais havia.
Eram pois muito meigas.
Só foi nestes últimos tempos, que pejorativamente começárom a ter furunchos e espulhas no nariz.

Debanado

Debanar,
As coles, ou couves, na seca, ou quando hai geadas bravas, debanam as folhas, as verças.
Tamém os animais enfermos, aginha que nom comem, ou estám mal, debanam as orelhas.
E algumhas persoas, depois de tantos trabalhos e problemas, andam debanadas.

Este debanar, nada tem a ver com devaneios.

E irmanará com dobanar, dobar?

Os mirandeses debanam, debanam em Muimenta, alô raiando coa Mezquita, debanam tamém na Occitania, Catalunha, Espanha, mas co significado de dobar. Dobanar ou dobar na dobadoira.

Este nom vos tem as orelhas dobanadas, ergue-as bem guichas.

Baiugueira

As baiugheiras som vides que medram bravas polas fragas, ou nas ribeiras dos rios e regatos, engachando as suas vidras, sarmentos, polos carvalhos, os ameneiros ...



Para o Sul do Minho, as vides som guiadas pelas árvores e arbustos arriba, pelas uveiras, muitos são negrilhos , árvore e videira cuidadas e podadas. As uveiras e os arjons.

Amantia


"É moi amantia da ervinha nova"

Paça


Este Agosto vem raro.
Chove quatro dias , quenta um ou dous.

A erva medra bem, nom hai seca.

Hai boa paça.

Paça de pacer.
Pacer no paçairo.

Chocas e choqueiros

Às vezes as palavras ficam como restos arqueológicos indicando o rasto dum passado.

Na parte das Marinhas no antroido, qualquera com roupas velhas disfarçado, com muito ou pouco adobio, vai de choqueiro.

Mas estes choqueiros já nom levam chocas.
Seria entom que nalgum tempo as levárom?

Outros com chocalhos, menos conhecidos por aqui:
Villanueva de Valrojo.
Podence.
Ituren.
Cagliari
Isto pola Grécia.
Na Eslovênia

E contam que tamém polo carnaval, no Chao de Vilar, jogavam a tirar os penicos uns para os outros polo ar arrebolando-os com jeito, cheios de mejos e algum cagalhom, como no Domingo Oleiro de Ginço.
Do Chao de Vilar a Ginço há uns douscentos quilómetros.

Vai-se abalar a vaca.

A vaca, está prenhe de sete meses e meio.
E começa a fazer úb're. O côcho quere-lhe medrar.

"Uiih, e parece que a vaca se quere abalar".

Pode ser que adiante o parto, que paira antes de ter o tempo acabado, dos nove meses, pode ser que aborte, que se malpaira.

Virtudes vai por umha campaínha, umha choca, e pom-lha no pescoço.
A sineta, tlim-tilim, pára o processo.
Assi o chocalho penduramos-lho às vacas que nom dam logrado a cria, que tiram com ela antes de cumprir o tempo.
E será que o som calma a pressa?

Neste link, podemos escoitar as chocas dumhas vacas pascendo, é lindo si.

Garmejar ou garnejar

Alento de vida.
Auga e ar, dous princípios.

Os recém-nascidos podem tragar algo de parto.
Tragar parto é um jeito de falar, para dizer que nas primeiras inspiraçons de vida, a cria aspira algo de líquidos amnióticos, as augas, que lhe obstruiriam as vias respiratórias; inclusive podem chegar a afogar.
Esse líquido com algumhas outras secreçois provocam um rouquejo, o garnejo ou garmejo, um ruído vibrante, (gargamejo também).
A cria sacode-se, cachorrea, dá-lhe à língua pra fora.
Às vezes penduramo-los cabeça abaixo para que botem a mucosidade fora.
Há quem lhe poe sal na boca, para provocar um reflexo de expulsom. Salgado sabor da primeira vida.
Alento de vida.